domingo, 29 de maio de 2011

O que é Ciência? Uma reflexão a partir da filosofia de Hume

Primeiramente é preciso destacar que David Hume (1711-1776) em sua filosofia distancia-se da filosofia cartesiana, que de certa forma ainda era recorrente em sua época. O pensamento de Hume, ao contrário do de Descartes, construía-se a partir do ceticismo, ou melhor da quebra da pretensão, vigente de longa data, de encontrar alguma causa primeira que explicaria tudo e solucionaria todos os problemas do homem.
Com isso tem-se uma filosofia calcada no limite do conhecimento humano. O homem só poderia conhecer partindo da experiência, ou seja experimentando. Nunca poderia então inferir qualquer causa primeira, pois a experiência não possibilitaria isso. Partindo desse pressuposto humeano, nada pode nos garantir que um fenômeno proveniente da experiência ocorra sempre. Um exemplo que podemos inferir daí é que ao soltarmos um bola de uma certa altura e for constatado que ela caiu, nada garante, na concepção de Hume que ao repetirmos a experiência ela caia novamente.
O único elemento que possibilitaria inferir sobre a repetição de um fenômeno, a partir do que já foi experienciado, seria o hábito ou costume. Tal hábito é um princípio natural.
Este esboço sucinto, e, logicamente, não completo da filosofia de Hume possibilita pensa-la como umas das mais conhecidas e discutidas bases da filosofia da ciência, ou melhor, pode-se pensar Hume como um grande mestre e influenciador da filosofia da ciência do século XX, principalmente no que tange aos positivistas lógicos do circulo de Vienna, que posteriormente a segunda guerra mundial levaram tal influência para os Estados Unidos.
Diferentemente da filosofia cartesiana, que partilhava da idéia de dedução, a filosofia de Hume aponta para um outro centro, ou seja, temos agora a valorização da indução que tem a experiência num maior grau de importância para a construção da ciência.
A partir dessa explanação da Filosofia de Hume, tentamos traçar mais um capítulo da História da Ciência, esforçando-se por responder a dificílima pergunta o que é ciência? Mas já podemos destacar que qualquer resposta dada a essa questão é historicamente dada. A resposta que a filosofia de Hume possibilita a essa questão não deve ser tida como única, ou até mesmo como algo infinitamente melhor que a resposta que Descartes possibilita.




David Hume

domingo, 22 de maio de 2011

O que é ciência?: A visão cartesiana

Esta é uma pergunta de difícil resposta, no entanto é essencial que façamos uma reflexão sobre ela. O intuito dessa reflexão não é que se de uma única resposta ao significado da ciência, muito menos que se extraia daí um modelo de ciência capaz de solucionar todos os problemas sociais que enfrentamos na atualidade. Poderíamos até dizer que isso seria o ideal e que não deixa de ser um importante objetivo a se chegar, no entanto a pretensão aqui é outra, trata-se simplesmente de elucidar uma grande problemática, que nos envolve, formalmente falando, desde os idos da modernidade.
Fazemos essa ressalva, no “formalmente falando”, pois o homem pode ser considerado um produtor de ciência desde a conhecida “ pré-história”, quando começa a ter um certo domínio sobre a natureza em busca de sua sobrevivência.
Mas ao fazermos a pergunta o que é ciência?, optamos por referendar um processo que se estende da Idade Moderna à Idade Contemporânea, principalmente quando falamos do século XX e do século XXI. Nesta postagem, nos limitaremos a apresentar uma visão da ciência aos moldes da modernidade, principalmente com relação à forma com que a filosofia cartesiana formulava as suas bases.
Assim com Descartes no século XVII tivemos uma tentativa de demonstrar a ciência como algo inteiramente fundado nas verdades eternas, ou melhor, fundada na causa primeira, que é causa de tudo. Tal causa seria um Deus onipotente, que fundamentaria toda a verdade, ou seja, temos uma verdade que fundamenta todas as outras verdades. Sem entrarmos aqui nos pormenores do método cartesiano, que nos mostra como chegarmos a essa fundamentação universal da verdade, é importante ressaltarmos o papel primordial que Descartes dava à ciência, ou ao caminho do conhecimento.
Temos então, na acepção cartesiana, uma ciência que em hipótese alguma pode ser desvinculada de uma verdade única, que garante a existência de todas as coisas no tempo e no espaço. Apesar disso sabemos que Descarte colocava todo o conhecimento existente vinculado ao sujeito, que assim era capaz de pensar toda a realidade e transformar toda a ciência. No entanto, essa subjetividade, baseada na liberdade do “Eu pensante”, estava, via de regra, subordinada a causa primeira – Deus. Assim tínhamos um ponto fixo ao qual todo a ciência se encontrava.
Esse é um breve resumo, por si só incompleto, da visão cartesiana da ciência, mas que nos evidencia a importância que tinha a verdade para Descartes. Além disso podemos constatar o que talvez seja as bases para todas as definições, inclusive as recorrentes do século XX e XXI, que tentaram e tentam mostrar a ciência como algo objetivo, e portanto ferramenta indispensável para se chegar à verdade. Mas notemos desde já, essa é uma discussão que está, sem sombra de dúvidas, aberta para a reflexão.


René Descartes
            

sexta-feira, 13 de maio de 2011

De Galileu a Brecht, de Brecht a Joseph Losey

No dia 15 de fevereiro de 1564 nascia Galileu Galilei, o grande cientista do século XVI. O estudioso italiano aperfeiçoou um grande invento para a época, o telescópio. A partir de suas indagações Galileu passou a desenvolver uma série de pesquisas que desencadearam em acusações da igreja, acusando-o de heresia sendo obrigado a assinar um decreto no Tribunal de Inquisição onde afirmava que todos os seus estudos, relacionados ao sistema heliocêntrico, eram apenas uma hipótese.
No dia 10 de fevereiro de 1898 nascia na Alemanha um homem que seria no século XX um dos maiores dramaturgos ,teóricos de teatro e poeta, desta vez nos referimos a Bertolt Brecht, autor de diversas peças, entra elas ''Os Fuzis da Senhora Carrar'', ''Mãe Coragem e seus filhos'', '' O senhor Puntila e seu criado Matti'' entre tantas outras. Com a proposta do teatro épico o alemão comunista desenvolveu um teatro político riquíssimo e irônico onde usava recursos simples e humanos para concretizar suas críticas sociais e políticas. 
No dia 14 de janeiro de 1909 nascia Joseph Losey, cineasta norte-americano, de Lacrosse, que se radicou na Inglaterra. Começou com a sua carreira na sétima arte em 1945 com o curta-metragem ''A Gun in his hand''. Diretor premiado diversas vezes, em 1970 ganhou o Palma de Ouro no Festival de Cannes com o filme ''O mensageiro''.

Entre estes três indivíduos há um ponto de intersecção, o filme Vida de Galileu dirigido por Joseph Losey em 1975, baseado na obra de Bertolt Brecht. A peça relata Galileu, com todas as suas pesquisas em uma época onde a igreja ditava as regras. Sendo influenciado pelo seu meio socio-politico-cultural o cientista não pôde tomar rumos mais propícios sendo delimitado por uma doutrina muito vigente na época. Por sua vez, Brecht, um poeta do seu século, que busca por meio da arte dramática a reflexão, traz nesta peça uma indagação da ditadura Stalinista aplicada na Rússia usando como metáfora a vida do cientista da idade moderna.


Galileu Galilei


Bertolt Brecht


Joseph Losey


Confira a primeira parte do filme Vida de Galileu








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quinta-feira, 5 de maio de 2011

De Boaventura para Japiassu

Partindo do texto de Boaventura, Um discurso sobre a ciência na transição para uma ciência pós-moderna, temos uma defesa de um novo paradigma para a ciência.Tal paradigma não seria simplesmente científico mas também social que está diretamente ligado a proporcionar uma vida decente para todos.
Para Boaventura esta transição, do paradigma dominante para o emergente,  só seria possível através de uma transgressão metodológica. Essa transgressão metodológica é necessária pois enfrentamos uma revolução científica, cujos resultados são uma pluralidade de métodos. E isso seria impossível de se realizar com sucesso mediante o paradigma dominante.
A partir desses levantamentos do sociólogo português encontramos em um filósofo brasileiro, professor da PUC-RJ, Hilton Japiassu,  autor do livro ''Mito da Neutralidade Científica'' , a defesa da tese de que o meio sócio-político-cultural influenciam as pesquisas científicas e os seus resultados. No entanto, não podemos generalizar e considerar os resultados da ciência como sendo intrínsecos a uma espécie de conspiracionismo do poder político e econômico. Podemos enfatizar simplesmente que o conhecimento e a ciência estão diretamente ligados ao processo histórico vigente. A exemplo disso temos que Galileu jamais pesquisaria a teoria da mecânica quântica visto que as bases para tanto ainda não se encontravam presentes no desenvolvimento do século XVI.


Boaventura de Souza  Santos


Hilton Japiassu




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